Cruzámo-nos

O meu ritmo normal de leitura é de um livro por semana, não é muito nem é pouco, é o meu ritmo. No entanto, não me tem sido possível manter este ritmo. Nos últimos tempos, entre trabalho, aulas e crianças, tem sobrado pouco tempo para a leitura, e, por isso, estou há um mês Dentro do Segredo do José Luís Peixoto. Tenho demorado este tempo também porque este não é um livro qualquer. Este é o primeiro livro que leio do José Luís Peixoto, o meu tipo de autor. O livro é uma viagem, retrata a viagem do autor à Coreia do Norte, e só isso já é merecedor de destaque, gosto de História, gosto de História contemporânea e adoro a História que se faz hoje, a História que se escreve enquanto eu vivo, noutro lugar, embrulhada em contextos que não imagino. Mas a viagem que tenho feito não é só à Coreia do Norte, é à vivência desta viagem pelo José Luís Peixoto, que habilmente descreve, num malabarismo de palavras, cada espanto, cada revolta, cada choque de culturas, de estados e crenças. E estou inebriada com a escrita, é o primeiro livro que leio, mas não é o último, porque esta escrita pede mais, como água que se bebe que não mata a sede, que me torna mais sedenta. A leitura tem sido demorada porque não procuro nenhum desfecho, não quero saber quem matou quem ou quem casou com quem, quero passar pelos lugares com o José Luís Peixoto, e passá-los com calma, sem pressa de chegar.

Porque esta leitura tem sido tão lenta, ontem, quando saí do escritório, trazia este livro na minha mala. Ontem, como  hoje já começa e se avizinha, acordei às seis e meia da manhã, às nove sentei-me no meu lugar, às seis saí do emprego para às seis e meia me sentar novamente, desta feita, nas aulas. Neste compasso de meia hora de troca de papéis, subia a rua para ir para o metro e passei por três pessoas. No meio uma senhora de idade avançada, muito próximos dela dois adultos de meia idade, um homem e uma mulher. O homem, não muito alto, dificilmente considerado baixo , ainda assim, vestia roupas escuras, tinha cabelo cinzento, não disfarçado, e tinha piercings na orelha. Dei alguns passos, na direcção da minha vida, para o tic tac do relógio. Parou o relógio. Voltei para trás, era ele, o autor da viagem que estou a fazer, há um mês.

Chamei-o, ele parou. Veio ter comigo, habituado, eu não. Cumprimentou-me, estendi-lhe o livro, quando encontrei (ao livro soterrado na mala), e ele assinou-o. E conversámos, humanamente, conversámos. Esta mania que tenho que autores são semi-deuses que o que fazem, tocar-nos pelos textos, são milagres.



P.S.: A fotografia da capa do livro foi tirada no meio de nenhures, pelo José Luís Peixoto, clandestinamente num movimento como quem acena.

Todos os Santos



Ontem foi dia de todos os santos e eu não preciso de um dia no ano para me lembrar que isto aconteceu. Eu vivo a imaginar o dia em que Lisboa vai voltar a tremer. Não ajuda nada eu estar em vias de me mudar para um prédio com cem anos. Estimadinho, sim senhor! Mas centenário!

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa

Alta Patente

Saí da entrevista da segunda fase de um processo de recrutamento para uma empresa/ função que é mesmo, mesmo, mesmo aquilo que eu procuro nesta fase da minha vida, com a profunda sensação de que nunca uma entrevista (e já fiz bastantes) me correu tão mal. Foram tantos tiros ao lado, Jesus! Só ao recordar tenho esta sensação de vergonha-própria que me corróiiiiii! Ao terminar a entrevista, entrevistada e e entrevistadores de alta patente despedem-se. "Até breve, espero", diz a alta patente. "Até à próxima." E despede-se dizendo, "Eu já percebi que a Filipa é uma lutadora, tem grandes coisas à sua frente", entendi eu algo como, "A Filipa vai ser óptima, mas ainda não é!" ou ainda, pior, "Não se sinta mal por ter atirado ao pé vezes sem conta, vai ter mais oportunidades na sua vida.". "Ciau", pensei eu, optando por não mostrar que domino o italiano.

Passa ao próximo e não ao mesmo.

Há Tempo

Quando me cruzei com este artigo AQUI, intitulado "Why My Family Doesn't Do Sleepovers", pensei, antes mesmo de o ler, "Oh, não! Da série: Tem andado a fazer tudo errado na educação do seu filho, temos aqui uma teoria novinha em folha para o fazer sentir mal!". Honestamente, pachorra para cada teoria! Mas, como a curiosidade matou o gato, não só li o artigo, como dei por mim, no fim, a concordar.

No fundo o que é dito no artigo, é que uma criança a dormir fora de casa, em casa de amigos, está muito mais exposta ao perigo de abusos sexuais. Não necessariamente por parte dos pais dos amigos, mas irmãos mais velhos, primos, amigos dos amigos. Nesta parte do artigo, eu disse, baixinho e só para mim!: menos, minha gente, menos! Na verdade, eu não conheço nenhum caso próximo de abuso sexual, e assim que me recorde, nem afastado. Sei que existe, obviamente! Eu não conhecer não significa que não exista. Não estou fechada na caverna, e isto não é uma alegoria. Sei que é (deve ser, acredito que seja!) um marco terrível na vida de uma criança. Mas, felizmente, é uma realidade que tenho bastante distante. Apesar de ser muito apologista do não há (ou há poucos) bons seres humanos, também não acredito que hajam assim tantos maus (ou tão mesmo maus!). Eu nunca fui assaltada, não tenho medo de sair à rua fora de horas, mas também sei que não devo andar com a carteira escancarada, ou meter-me em becos escuros à noite. Acho que, como em tudo, impera o bom senso.

Evitar que os filhos durmam em casa dos amigos dado o perigo de abuso sexual, parece-me exagerado - ao melhor estilo do permanecer em casa para evitar ser atropelado. Quando eu não devia ter mais de 10 anos, teria eu uns 8 anos, talvez, morava em Tomar. Uma cidade pequenina, amorosa, onde se vivem muito intensamente os acontecimentos da cidade (é uma vida de vila, um pequeno burgo que é cidade porque a Rainha Dona Maria II amaaaaavaaaa a vila e fez dela, no século XIX, justamente, cidade). Uma vez tomarense, a camisola do Nabão, tudo nos diz respeito. Um prédio antigo ruiu no centro da parte antiga da cidade (para quem possa conhecer, ao lado da Rolisport, perto do Café Santa-Iria! - ontem foi dia de Santa Iria em Tomar, btw! Alguém se lembra disto?!), um senhor mui antigo, dos seus noventa anos, estava justamente sentado no seu trono (vulgo pia, retrete ou sanita), quando a casa desabou, tendo o homem vindo do segundou ou terceiro piso aterrar no rés do chão agarrado às calças. Desta lição da minha infância, eu retiro um lema, que embora não absoluto é importante: quando é para acontecer desgraça, ela acontece em qualquer lugar.

Agora, voltando ao artigo, houve um aspecto que me fez pensar. Em criança, passar a noite em casa dos amigos é uma excitação. Lembro-me perfeitamente de que quando isso acontecia, eu ficava impossível de alegria. Eu e as minhas amigas faziamos planos, apresentávamos umas às outras o resto das nossas vidas além do que era passado na escola. A casa, a família, os hábitos, o cão, o gato, os brinquedos. Brincar em casa dos amigos era óptimo, passar a noite em casa das amigas era o auge. Mas ao lado desta excitação lembro-me que também sentia outras coisas, sentia que aquela família tinha rotinas e hábitos diferentes dos meus e que isso era estranho (não estou a falar de ninguém acordasse à meia noite para jogar Trivial Persuit, mas o espaço era diferente e com ele os hábitos). Eu sentia-me na posição de convidada, queria ser prestável, educada, não incomodar, por isso sei que se precisasse , por algum acaso, de pedir socorro (porque me doia a garganta, porque tinha frio, ou o que fosse), eu não o faria. Finalmente, sei que se as minhas amigas me dissessem que era normal fazer alguma coisa, eu aceitaria. Se os irmãos mais velhos me acordassem para, estou a excluir, redondamente, as questões dos perigos de abusos sexuais, fazer um disparate qualquer - sei lá ir brincar para o sotão ou trepar ao telhado, eu dificilmente me oporia, não teria discernimento suficiente para saber se aquilo era algo normal para aquele contexto. Por isso, sim, acho que as crianças são frágeis e vulneráveis. Cabe-me proteger os meus filhos, rodeá-los e dar-lhes veículos de amadurecimento sem que para isso os coloque em posições de fragilidade. Não faz mal nenhum tratarmos as nossas crianças como crianças e esperar que cresçam. Há, espera-se, tempo para tudo. Existe, para tudo, o momento certo. Há que respeitar o tempo de proteger, preparar e ensinar


P.S.: É óbvio que as minhas crianças ainda não dormem em casa dos amigos. Quanto muito em casa dos avós e não há problema nenhum.

Quem Diz é Quem é

No carro, pela manhã, a caminho desde a Linha periférica até à Lisboa metrópole, para a nossa família, porque simplesmente não conseguirmos estar nos sítios a horas de outra maneira, por muito que gostássemos de ter uma carrinha familiar que deixasse cada um no seu destino, são precisos dois carros para nos transportar. Lisboa está caótica, quarta-feira demorei, de carro, 55 minutos (pacientemente contados de um em um!) do Marquês à 5 de Outubro.

Como estamos no trânsito à mesma hora em dois carros, temos o hábito de nos telefonarmos, e, em alta-voz fazemos deste um momento de tagarelice familiar. Tão querido. O Lourenço, apesar de mal falar português (tão mal! - mas melhor a cada dia), já tem aulas de inglês. E, por isso, vinhamos a revisitar a matéria (o Lourenço tem 3 anos!).

Pai: Como se diz um em inglês, Lourenço?
Lourenço: One.
Pai: Muito bem! E agora como se diz dois em Inglês?
Lourenço: Hmmm... Four!
Pai: Não, filho! Dois é two!
Lourenço, ultra-escandalizado: Não!!! Dois é o Pai!!

Can't stop laughiiiiingg!

Sai um Nobel para os States

Well... Well... Well... Longe, longe de mim ser uma papa Nobeis. Mas o Bob Dylan ganhou o Nobel da Literatura. E eu ainda não me consegui decidir se concordo ou não!

 É que é isto que eu adoro na arte, tudo pode ser qualquer coisa desde que o sintas very deeply. A versatilidade da arte, a transmissão da emoções pelos canais tradicionais muito para além do que é esperado de uma comunicação tida por básica.

Mas ele há tantaaa literatura melhor que a do Dylan. Ele tem frases incríveis, tem! Mas literatura?!


I consider myself a poet first and a musician second. I live like a poet and I'll die like a poet.
O Bruno Vieira do Amaral, no Observador, explicou bem a coisa. Aqui.

Crowdfunding

Não parece, mas eu tenho aqui uma pequena costela empreendedora. Ora, vejamos, ontem à noite, assisti ao Shark Tank português e fui testemunha de um caso de sucesso extraordinário. Um senhor de setenta e seis anos, se não me falha agora a memória, conseguiu arrecadar não só fantásticos elogios, como ainda, pasme-se minh'alma, dinheiro pela extraordinária invenção de uma mesa que consegue ser, ao mesmíssimo tempo, nada mais nada menos que uma mesa. Uma mesa cadeira. Um trambolho, que eu não queria nem que me oferecessem. Portanto, se lhe deram dinheiro a ele, também me podem dar dinheiro a mim. Está claro que eu preciso de mais um bocadinho. Mas não sejamos tio-patinhas nesta hora. A outra que comprar casas não é um investimento, porque a casa já está feita. Eu não concordo.

Passados tempos e tempos de horrivel vai e vem, da cidade para a periferia, e da periferia para a cidade, ninguém aguenta!, em conselho de família, eu e o meu esposo decidimos que é hora de mudar. Deixamos a Linha, deixamos o mar, a brisa marinha e a marginal que serpenteia congestionada, por um local perto dos empregos, perto da escola dos miúdos. Tendo a decisão sido tomada, eis que falta o essencial. A nossa próxima residência, digamos que temos tudo preparado para entrar já amanhã para uma qualquer casa que caiba no orçamento de uma jovem família da classe média (ela estrabucha, mas cá vai sobrevivendo!, a classe média). Mas parece que a casa que precisamos simplesmente não aparece, e o tempo vai passando, passando, passando... Até que eu vi ontem os sharks a investirem na mesa-cadeira e se fez luz. Crowdfunding. Entrepreneur. É só desempenhar o meu papel. Portanto, senhores Angels que leiem esta Gigante, que devem ser para cima de meia dúzia, não se acanhem. Em troca de um milhão de euros (sim eu sei que ninguém dá nada a ninguém portanto eu tenho que dar alguma coisa em troca) eu terei um sorriso estampado no rosto, o que só pode ser uma mais-valia para o mundo, prometo chegar a todos os compromissos a horas, prometo ser bem comportada, não me enervar com os meus filhos, não me enervar com o meu marido. Isto soa um bocado como se os Angels fossem o Pai Natal, mas I don't care, se o financiamento vem do Polo Norte ou da China tanto me faz, contando que chegue.

Um milhão de euros a mim chega-me, (para verem como eu sou modesta, com tanta casa gira por aí de dois milhões para cima eu contento-me com uma casinha de um milhão)! Ainda se aceitam contribuições para os impostos (grandes ladrões!) e porque uma casa não se quer despida, conto investir tudo o que sobrar num serviço de decoração à séria, não vamos encher uma casa deste calibre de IKEA, que parece pecado.

Como sou querida, e gosto que os meus Angels se sintam envolvidos no projecto, ainda os permito escolher entre:


Hipótese A: Um magnífico T3 na Avenida António Augusto Aguiar, por 970 000,00 euros, num edifício estupendo, que recupera a traça antiga sem descurar a contemporaneadade.
 



Hipótese B: Um estupendo T3 em plena Avenida da Républica (desconsidere-se o dito do Almeida Garret sobre Viscondes e Barões), por 920 000,00 euros, temos um edifício do século XIX. Pronto e é isso. Um edifício que é um espanto, do século XIX na Avenida da Répública. Senhores Anjos, eu não tenho preferência, mas este cai muito bem.




Posto isto, estou ao dispor.

Grab them by the p***y!



Já temos o Putin, na Rússia. O Kim Jong-un na Coreia do Norte. Já despachamos o Fidel, o Estaline, o Hitler, o Sadam. Precisamos mesmo, mesmo de mais uma dor de cabeça?!

RICHARD FORD


The world doesn’t usually think about bank robbers as having children-though plenty must. But the children’s story - which mine and my sister’s is ours to weigh and apportion and judge as we see it. Years later in college, I read that the great critic Ruskin wrote that composition is the arrangement of unequal things. Which means it’s for the composer to determine what’s equal to what, and what matters more and what can be set to the side of life’s hurtling passage onward.


Oh, Canadá!

Canadá





Seria difícil para Dell Parsons imaginar o quanto a sua vida se alteraria no dia em que os pais, desesperados, decidem assaltar um banco. A consequente detenção lança sérias ameaças sobre o futuro incerto de Dell, que se verá ainda mais desamparado após o repentino desaparecimento da sua irmã gémea.
Mas Dell não ficará sozinho: uma amiga da família decide resgatá-lo do desnorte, levando-o numa viagem de autodescoberta ao longo da fronteira do Canadá, com o objetivo de lhe oferecer novas perspetivas de vida. É durante essa viagem pelas pradarias de Saskatchewan que Dell é recebido por Arthur Remlinger, um norte-americano que transporta doses iguais de carisma e mistério.
A procura de harmonia e paz, debaixo do vasto céu azul da pradaria, parece revelar-se infrutífera à medida que Dell vai cedendo à vertigem de Remlinger e aos tormentos e impulsos homicidas que ele inspira. Conseguirá Dell descobrir a força de carácter necessária para reencontrar um rumo para a sua vida?
Com Canadá, Richard Ford, um dos mais importantes ficcionistas norte-americanos, oferece-nos a sua mais recente obra-prima.



Não me surpreende que haja quem não goste do Canadá. Não é para todos os gostos. Este livro é exactamente a antítese de um thriller. Nenhum suspense. A verdadeira surpresa, que me agarrou desde a primeira linha, não são os factos, que são, aliás, praticamente o de menos nesta história e, ainda para mais, estão todos ali escarrapachados no verso, mas sim a narrativa. A narrativa do Canadá é ma-ra-vi-lho-sa. Mas, atenção! Ma-ra-vi-lho-sa!! Este é um livro que se lê sem pressa de encontrar o desfecho, se não, tão só para apreciar o caminho até lá, salvo o lugar comum que isso é, esta é a mais pura das verdades. Aliás, esta é uma narrativa que se impõe ao ruído, ou é absorvida por ele. Tão calma, tão sossegada. A história é o amadurecimento do Dell face os acontecimentos, que até podem ser o que lhes dão origem, mas são só isso mesmo. Os pais do Dell roubaram um banco, a irmã gémea fugiu de casa, e o Dell, o próprio, foi recambiado para lugar nenhum no Canadá. O Dell sobreviveu e o Canadá vale cada linha.




Richard Ford, bring it on. I want more!!



Os Passarinhos Quando Nascem

http://observador.pt/especiais/morte-e-prisao-a-moda-perigosa-dos-partos-em-casa/


Há coisas que me deixam fora de mim. Além das enxaquecas, a estupidez é bem capaz de estar no topo da lista. E francamente, ter um filho em casa sem assistência médica é bem capaz de ser uma grande estupidez. Se não vejamos. Esta é de facto uma realidade, subjaz ao exercicío da maternidade nos dias de hoje que quanto mais natural melhor. Devemos amamentar - óbvio!, devemos dizer nãos às cesarianas - jamais!, devemos comer sementes goji e óleo de girassol para fortalecer. Afinal, andávamos esquecidos de que temos filhos há milhares de anos, o óleo de girassol também não é nenhuma novidade, e a epidural essa é que afinal não tem muito mais que vinte anos.

Não preciso de dizer muita coisa, o artigo já diz tanto quanto baste. As minhas duas cesarianas não foram feitas por ETs, foram humanizadas o suficiente para me salvar de uma hemorragia pós-parto a mim na primeira, e de uma paragem cardio-respiratória (e  de tudo o resto!) ao Sebastião, na segunda. O mal é que elas acontecem mesmo, mas é preciso saber acontecer.

Nietzsche Knows It All


O valor que damos ao infortúnio é tão grande que, se dizemos a alguém “Como és feliz!”, em geral somos contestados.


Friedrich Nietzsche


Não tem sido nem uma, nem duas vezes por semana. Há semanas que são quase todos os dias assim, chego a casa exausta, morta de cansaço, com enxaquecas até Bagdad. Não entendo, o Nietzsche também sofria de enxaquecas, ficou famoso por isso até (e não só, atenção!) e escreveu que se fartou, mega produtivo o homem. Eu sofro, mas é que sofro mesmo, de enxaquecas e fico que pareço uma estátua, não posso mexer um milímetro que me contorço de dor, náuseas, mal estar. Eu sei que isto não é um consultório, mas o blogue é meu, eu reclamo do que quero. E agora queria mesmo era qualquer coisa um bocadinho mais forte que o ben-u-ron.

O raio do tempo, traiçoeiro, pára e passa conforme me é mais inconveniente. Resigna-se cansado e preguiçoso quando lhe peço que acelere o passo. Voa, quando preciso dele sentado.

Comendadores e Comendadoras

Portugaaaaal. Eu sei que já não estou propriamente em cima do acontecimento, mas vamos ver, isto de sermos campeões da Europa dura quatro anos, pelo que eu vou esperar que escrever sobre o assunto na primeira semana ainda não seja um acto totalmente desactualizado. Bem sei isto é para se viver muito intensamento, mas em tempo curto. Para a semana voltamos aos défices e resgates, e já ninguém se lembra da Europa por estes motivos. Aproveitemos então enquanto ainda é tempo.

Eu não estou habituada a ganhar nada, à excepção dos campeonatos do Benfica, a esses já estou a tomar o gosto. Mas a quem é que eu quero enganar?! Não entendo assim tanto de futebol. Pouco importa, nestas últimas semanas, pasma-se a minha alma, a equipa de futebol da seleção esteve, tal como previsto, quase quase a perder, mas acabou sempre por ganhar. Isto como quem não quer a coisa foi fazendo crescer em mim uma esperança... É que nem sei eu de onde me vem este patriotismo todo. Mas ai, com cada perna, aqueles homens! E correm, e que beleza cada passe, cada chuto! Isso sim. Houve de tudo, e não há como uma pessoa ficar indiferente. Ele foi empates, ele foi comentadores muito inspirados, ele foi desforra a penáltis, ele foi o grande capitão campeão desfeito em lágrimas lesionado com uma pequena traça no rosto na final, ele foi patinho feio a dar a vitória, ele foi franceses casmurros e com mau perder, ele foi belíssimas piadas na internet. Ele foi o desfile do Marquês, eu juro que só não fui porque não pude. Estive quase quase, mas só vi ao longe, estava a dois passos e escaparam-me. Porque isto não interessa nada se metade destes jogadores não sabe falar português com dignidade, se quando lhes fazem perguntas ainda estão a arfar, ou a fazer beatbox, ou a dizer asneiras. Eles ganharam, e é como eu digo aos meus filhos, quando eles se portam bem ganhamos todos. São comendadores, acho bem! Afinal os nossos amigos british têm a rainha, é toda uma loucura sair à rua no UK com a belíssima bandeira britânica em punho a ondular ao vento baixo aquele céu cinzento. Nós temos sol, e temos o Ronaldo! Cada macaco no seu galho. Impossible is nothing.

Agora, não fiquemos indiferentes aos campeões de atletismo que se fartaram de pedalar em Amesterdão. Eu não tenho culpa nenhuma se o atletismo não move nem montanhas nem milhares. Se calhar se passassem na Rtp1 e tivessem um genérico do David Guetta a coisa não era assim. Mas eish, não olhem para mim, eu não tenho soluções. Só sei apontar os problemas. Ouvi dizer que também serão comendadores e comendadora, e eu estou orgulhosa. Há lá país tão comendado.

Ninguém merece ler por castigo

Ninguém merece ler por castigo. Geeeez! Não fiz mal a ninguém. Achei que os Pequenos Vigaristas da Gillian Flynn (sim, sim! a autora do Em Parte Incerta - ou Gone Girl) por dez euros era um roubo, um rou-bo! São sessentas páginas, assim muito esticadinhas, porque, para mim, na verdade mais parecem 30! Até que descobri que o mesmo conto da nossa querida e dotada Gillian fazia parte de uma colectânea de contos do George R. R. Martin, a coisa boa é que em vez de um conto a dez euros, estamos aqui a falar de uns vinte contos na ordem dos 12 euros pelo conjunto. A vantagem é óbvia, e é que eu nem pisquei os olhos. Histórias de Aventureiros e Patifes, toda a gente adora um bom patife. Fiz-me à estrada. HOR-RÍ-VEL Not my cup of tea. A única coisa que se aproveita é a história da Gillian Flynn, e.. e... mesmo assim! Mas quer dizer, eu vejo uma espada e sangue na capa! Do que é que eu estava à espera?! Enfim, mete ossos de dragões, bruxos e homens-cogumelo... Eu tentei ler, juro que tentei, mas a certa altura, que dizer ler é suposto ser bom, ser muito bom! Não é para ser um castigo, é para ser um prazer. Eu sigo aquele lema do "se começo um livro, é para acabar", nunca se sabe se o final não vai dar todo um novo significado ao livro que eu por preguiça não o alcanço. Mas desta vez, não deu. Uma, duas, três histórias horríveis, e evaporou-se a esperança. Eu desisti. Com tanta coisa boa para se ler, não vou perder mais do meu valioso tempo com feitiços e mulheres invisíveis.


Uma Citação

A maioria das pessoas são outras pessoas. As suas ideias são opiniões de outros, as suas vidas uma imitação, as suas paixões uma citação.
Oscar Wilde

Deglutir o amor

Não sou uma pessoa muito sensível. De um certo modo, por assim dizer, costuma-me ser moderadamente indiferente a morte do parente de um conhecido, quando sei que alguém ficou doente, ou, sabe Deus que desgraça aconteceu a quem. É a vida, e quem ainda não sabe o que a vida é, abra os olhos. A injustiça não é uma (má) escolha, é um facto. Por mim viviam todos. Todos milionários, todos a vender saúde. Mas eu não posso escolher, e desfruto desta consciência para sofrer apenas onde estritamente necessário, e nem um mílimetro mais à frente.

Mas devo admitir, todavia, que quem não sente, não é filho de boa gente. E enquanto eu não estabeleço que os meus pais são tão bons quanto possível, mas que possivelmente eu até desejava mais. Contorço-me porque é a mim que me dói se me beliscam. Eu não entendo chinês e os russos, por norma, não compreendem latim. Não há nada que se iguale ao amor aos meus filhos. São meus. São eu. São a minha pele, que eu toco, que eu cheiro. Os meus bebés. São mesmo. São meus. São bebés. Assola-me o medo. Não os quero perder, nem no mar como a tragédia na ordem do dia*. Nem nos afectos. Quando ao fim do dia estou cansada, deito um e deito o outro, mudo uma fralda, o outro foge. "Anda cá!", "Veste as calças!", "Não tira a camisola!", E a bexiga contrai-se. Estou o aflita, mas tenho que esperar. E tenho sede, sede de tempo sem fazer, sem nenhum afazer. Toda a gente sabe que beber quando se está aflito só aumenta a vontade, o constrangimento. Todo o tempo do mundo.

Passo o dia a morrer de saudade.


* Ora, vejamos, estava na ordem do dia quando escrevi isto, em Fevereiro. Mas vocês percebem a ideia.

Textos Zombies*

Pouca Fé
Notáveis incursões ao profundo mar azul, incursões não menos notáveis para lá do azul do céu. Tão grandioso o feito como o medo, aterrador, do passo seguinte.

É na fraternidade. Os conceitos, excepcionais, de altruísmo ou solidariedade gozam de uma reputação  elevada, muito útil de lá para cá, um transtorno de cá para lá. Como na maioria das vezes a viagem se faz já admirando o caminho de regresso, os conceitos, prostrados, são belos como só o são, mas teóricos. Não fosse uma ou outra pedra, mais inconveniente menos inconveniente, seríamos todos maratonistas uns dos outros. Mas que na natureza humana obter vantagem é maior imperativo que obter confissão ratificada de livre pecad. A fome, o sono e este impecilho maldito do desejo de ser amado são juntos maior motor que todos os princípios do mundo.

É quase uma doença o transtorno de se aborrecer com a decepção.


Juro
A recordação tem sempre também algo de imaginação. A memória, sendo feminina, por característica da Humanidade, que não traz culpa de género, se tem neutra, infiel.
Assim, que não me lembro da côr do carro que me atropelou (um pé, na passadeira, há já muitoooo tempo e muito ao de leve. A sério, estou óptima!), consigo vê-lo cinzento, imaginar o semáforo dos peões avariado e intermitente, sei pormenores menos importantes que animam o cenário da minha recordação, por definição, incompleta.

A palavra do Homem, sem culpa de género, neutra, é só a forma expressa da verdade conjurada num castelo de cartas, jogo do sério, desconhecimento profundo e involuntário, conduzido pela natureza física e química do que é somente possível.


4Ever Young
A juventude, que é apenas tão inocente quanto baste, é como um atestado de incompetência, que advém da óbvia inexperiência das mãos com com falta de calos. Parece que só quem a atravessou, a juventude, sabe que já lá não pode voltar. Um mar não mais navegável. Não se vê a outra margem. De um certo modo a inveja, que mais ou menos se admite (daqueles raros segredos que permanecem segredos) comanda o entusiasmo do ensinamento de onde subjaz que ensinar é reviver, é a oportunidade de voltar ao ponto de onde se pode ver o horizonte em que a vida é, de facto, uma tela, quase, quase, e aqui, mesmo só quase, em branco.

A velhice não é a porta das oportunidades que se fecha com uma rajada de vento, muito ou pouco violenta. Uma fusão, é uma infusão. Nem frio nem quente, eternamente morno, o velho quando começa a ser velho para nunca mais acabar. Infundem-se no espírito ao de leve e lenta, muito lentamente, primeiro a dúvida, a povoar o mundo que não abala, depois o remorso, as rugas, e, finalmente, uma ou outra crueldade.


Alma
De todas as maneiras de ser que possam existir, e não tenho a relação de quais ou quantas, encaixo-me numa. Tenho alma de artista. Como assim alma de artista? O que é ser artista? Nunca estudei história de arte, ou sequer estética. Arte, seja qual for, é, na minha verdade não universal, a transposição de sentimentos em obras orientadas à beleza e contemplação (pois que nunca vi um músico tocar para uma plateia de surdos!). A arte não obedece a muito mais que à emoção. Já viram um músico num palco, de olhos cerrados a balançar a cabeça ao ritmo das notas sincronizadas que partilha ao deslizar os dedos pelo piano? Ele está a sentir e a desejar que nós também, ele não aguenta o peito confinado a si próprio. Os artistas são, então, pessoas que sentem muito intensamente. Esta é a alma de artista que se acha na fotografia, no bailado, na pintura, na escultura, na música ou no teatro.

Há um valente par de anos, visitei uma galeria de arte que tinha em cartaz uma exposição conceituada, vi lá desenhos muito bonitos realmente. E vi uma parede de pé direito alto decorada com um só quadro pendurado, o quadro era uma tela gigante (como a Boa) toda preenchida de preto com um traço branco a meio, não fosse a insípida obra de arte suficiente para me espantar, vi uma meia dúzia de pessoas sentadas no chão da galeria a contemplar o quadro negro com um traço branco a meio. Sentiam profundamente a mensagem. Para mim, esse albarroamento da alma que me levaria a sentar no chão é o deslumbramento pelas palavras, é assim que eu até concebo sentir para lá da compreensão.

Mas é a literatura. É a magnifíca rede de significados que se encontra em palavras orientadas de uma certa, não tão clara e ambígua maneira. É na literatura que está o meu êxtase.  Sai-me disparado directo da alma, sem piscar os olhos e sem cerrar os punhos. É este o espanto que encontro no modo de descrever os sentimentos soterrados, pós-calamidade, em acontecimentos e disfarçados por palavras, qual Carnaval em vida.
 Assim, a literatura, como toda a arte, é um código cuja chave para decifrar está na alma de quem sente o mesmo.




* Coisas meias mortas que já escrevi aqui há uns tempos.

Write it down

Como é do conhecimento geral, pelo menos do meu, eu já tive um blogue. E gostei muito. Num certo momento deixei de o sentir íntimo e quando isso aconteceu pareceu-me deixar de o sentir totalmente conforme e fiel.
 
A verdade é que escrever é pôr a cru muito do que sou. O desejo de escrever e ser lida (e mais, entendida, que ler até sabem ler, mas não entendem nada) contrasta grandemente com a urgência de manter o meu recato de modo a manter-me guardada e protegida na minha esfera privada impenetrável pelo julgamento.
 
Mais, e caminhava ontem para o escritório do João (nem é bem um escritório, nem é do João!) e pensava na life e em mim, quer se queira quer se não, o eu é sempre catalisador de um grande número de pensamentos. Se eu não me conheço como me posso dar a conhecer? Ah e tal?! Não te conheces, Filipa? Jura!? Vais dizer que voltaste aos quinze anos para descobrir quem és tu?! Nãaaaao. Hellooo. De mim conheço o que vivi e não me esqueci, o que pensei e não esqueci, e, no máximo a minha imagem, reflectida, porque os meus olhos nunca os poderei ver (está-me a passar uma imagem macabra pela mente, de arrancar um olho à vez para lhe topar a pinta! Afinal, vide post anterior, ao jeito do Zafon há aqui alguma obscuridade). Então se toda a minunciosa engenharia biológica que faz do meu corpo qualquer coisa capaz é me inteiramente desconhecida a mim que sou sua proprietária, se há pele twenty-four seven agarrada a mim que não conheço. O que é que posso mostrar de mim que possa passar a minha própria triagem do que posso dar a conhecer sem deixar de ser suficientemente boa para admirar?!
 
Let's write this shit down.

A Gigante de Boa

Eu quis tomar emprestado o nome d'A Sombra do Vento. Não vai haver, espero, grande obscuridade neste neonato blogue, mas agrada-me poder espelhar, que seja numa sombra, aquilo que se sente mas não se vê, e ainda assim, deixa marcas e consequências.
 
A Sombra do Vento é um nome já ocupado por um outro qualquer imitador do Carlos Ruiz Zafón. Ainda por cima um blogue parado desde de 2007, com fotografias de conchinhas. Avante, camarada.
 
E então quis tomar emprestado o nome d'A Clarabóia, do amigo Saramago, porque a clarabóia, no topo do empreendimento deixa passar a luz em troca de alguma transparência, ainda que só disponível aos senhores da manutenção dos telhados. Com a mesma infame sorte da primeira tentativa de baptismo a clarabóia também está parada desde 2007. Avante, camarada.
 
Agora que já está escolhido e decidido o nome, Gigante de Boa, ocorre-me que há uma certa possibilidade de se interpretar o nome como sendo uma caracterização de mim "Ah! A Filipa é gigante de tão boa!", é possível que assim seja, que haja qualquer coisa em mim de tão bom que chegue a ser gigante, ainda que não certamente a altura e ainda menos estas curvas pós bebés, bem not-yet, pelo menos. A Gigante de Boa conhecia-a na infanto-juventude, que eu creio ser a infância que imediatamente precede a pré adolescência, é portanto uma época muito específica e significativa da vida de uma pessoa (como todas as épocas da vida, em rigor). Por mais magnífico que seja o Principezinho do Saint-Exupery, já não há paciência para tanto pequenó-principezianismo por aí nos últimos tempos, que de repente toda a gente adoooooraaaa. Dá-me, no entanto, a sensação que a jibóia que esconde o elefante no início do romance infanto-juvenil é nada mais e nada menos que uma gigante de boa, tentei confirmar esta informação na grande enciclopédia dos dias modernos, o google, mas não encontrei nenhuma referência, fico com a dúvida, mas o titúlo já ninguém me o tira. Onde se lê "Gigante de Boa" pode então ler-se "A Jibóia Capaz de Engolir um Elefante". Não sei se é bom se é mau, é assim, a ver, pelo menos por ora, tem sonoridade.

O Regresso

O tão aguardado regresso, aguardado por mim, que sempre soube que uma pausa é só uma pausa. Pára, arranca. Tenho uma certa avidez por escrever, na verdade as pessoas distinguem-se entre as que sabem estar quietas e caladas e as que não sabem. Eu não sei. Bem tento, mas não sei. É mais forte do que eu, tenho sempre coisas por dizer, e re-dizer, e comentar, cruzam-se comigo temas espectaculares para eu dissecar e eu cá me tenho aguentado, quieta, parada, calada. Mas, por fim, não seja por falta de água que não se mata a sede. Tudo o que são inimigos, dispara. Eish! Tão bélica que eu regresso.

Como tudo na vida é uma aprendizagem, um blogue não merece menos. O blogue que aqui nasce, irmão do MQD (desactivado, graças a Deus!), vai, claro, assentar na minha vida do avessos, certinha nas linhas tortas de Deus. Mas sobretudo vai respeitar o merecido recato da minha família, sempre dentro dos limites, porque é tão fácil esquecer que há gente atrás dos monitores, destes redes e fios, e linhas e redes sem fio (tão wireless!). Não vou ter página de facebook, pelo que seguir um blogue terá que ser feito do modo tão tradicional como sempre se seguiu os blogues, através do endereço (mega complicado, eu sei, gigantedeboa.blogspot.pt), não vai ter domínio (é mesmo preciso decorar a parte do blogspot.pt), não vão haver passatempos, nem controlos de visulizações, nem posts patrocinados (epá, juro que não estou a exagerar, uma vez tive um!, e foi tão óbvio, Jesus!).

Enfim, quanto aos posts patrocinados, podemos repensar o assunto. Ora vejamos, o meu computador avariou-se, leia-se o Sebastião esmurrou o meu defunto Vaio de um modo de tal forma violento, que o pobrezito (o pc, não o Sebastião) morreu para a vida, e agora eu, que tenho investido em tudo menos em computadores, isto é como com os animais de estimação, eles acabam, sempre, mais tarde ou mais cedo, por falecer, e depois ninguém aguenta com o desgosto. Portanto, como eu estava a dizer, tenho andado a utilizar (e muito bem, note-se!) computadores alheios que me têm enchido as medidas. Assim, se porventura quiçá a Toshiba, ou a HP, ou a Dell (juro que não sou esquisita) me quiser oferecer um computador para eu anunciar que o dito Toshiba, HP ou Dell é espectacular enquanto blogo, não me oponho.