Crowdfunding

04:17

Não parece, mas eu tenho aqui uma pequena costela empreendedora. Ora, vejamos, ontem à noite, assisti ao Shark Tank português e fui testemunha de um caso de sucesso extraordinário. Um senhor de setenta e seis anos, se não me falha agora a memória, conseguiu arrecadar não só fantásticos elogios, como ainda, pasme-se minh'alma, dinheiro pela extraordinária invenção de uma mesa que consegue ser, ao mesmíssimo tempo, nada mais nada menos que uma mesa. Uma mesa cadeira. Um trambolho, que eu não queria nem que me oferecessem. Portanto, se lhe deram dinheiro a ele, também me podem dar dinheiro a mim. Está claro que eu preciso de mais um bocadinho. Mas não sejamos tio-patinhas nesta hora. A outra que comprar casas não é um investimento, porque a casa já está feita. Eu não concordo.

Passados tempos e tempos de horrivel vai e vem, da cidade para a periferia, e da periferia para a cidade, ninguém aguenta!, em conselho de família, eu e o meu esposo decidimos que é hora de mudar. Deixamos a Linha, deixamos o mar, a brisa marinha e a marginal que serpenteia congestionada, por um local perto dos empregos, perto da escola dos miúdos. Tendo a decisão sido tomada, eis que falta o essencial. A nossa próxima residência, digamos que temos tudo preparado para entrar já amanhã para uma qualquer casa que caiba no orçamento de uma jovem família da classe média (ela estrabucha, mas cá vai sobrevivendo!, a classe média). Mas parece que a casa que precisamos simplesmente não aparece, e o tempo vai passando, passando, passando... Até que eu vi ontem os sharks a investirem na mesa-cadeira e se fez luz. Crowdfunding. Entrepreneur. É só desempenhar o meu papel. Portanto, senhores Angels que leiem esta Gigante, que devem ser para cima de meia dúzia, não se acanhem. Em troca de um milhão de euros (sim eu sei que ninguém dá nada a ninguém portanto eu tenho que dar alguma coisa em troca) eu terei um sorriso estampado no rosto, o que só pode ser uma mais-valia para o mundo, prometo chegar a todos os compromissos a horas, prometo ser bem comportada, não me enervar com os meus filhos, não me enervar com o meu marido. Isto soa um bocado como se os Angels fossem o Pai Natal, mas I don't care, se o financiamento vem do Polo Norte ou da China tanto me faz, contando que chegue.

Um milhão de euros a mim chega-me, (para verem como eu sou modesta, com tanta casa gira por aí de dois milhões para cima eu contento-me com uma casinha de um milhão)! Ainda se aceitam contribuições para os impostos (grandes ladrões!) e porque uma casa não se quer despida, conto investir tudo o que sobrar num serviço de decoração à séria, não vamos encher uma casa deste calibre de IKEA, que parece pecado.

Como sou querida, e gosto que os meus Angels se sintam envolvidos no projecto, ainda os permito escolher entre:


Hipótese A: Um magnífico T3 na Avenida António Augusto Aguiar, por 970 000,00 euros, num edifício estupendo, que recupera a traça antiga sem descurar a contemporaneadade.
 



Hipótese B: Um estupendo T3 em plena Avenida da Républica (desconsidere-se o dito do Almeida Garret sobre Viscondes e Barões), por 920 000,00 euros, temos um edifício do século XIX. Pronto e é isso. Um edifício que é um espanto, do século XIX na Avenida da Répública. Senhores Anjos, eu não tenho preferência, mas este cai muito bem.




Posto isto, estou ao dispor.

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