The Golfinch

And as much as I’d like to believe there’s a truth beyond illusion, I’ve come to believe that there’s no truth beyond illusion. Because, between ‘reality’ on the one hand, and the point where the mind strikes reality, there’s a middle zone, a rainbow edge where beauty comes into being, where two very different surfaces mingle and blur to provide what life does not: and this is the space where all art exists, and all magic.

A crítica, parece-me não tem sabido estar em grande harmonia. Ora há quem ache que é temos aqui umas das coisinhas mais sobrevalorizadas da última década, ora temos muito boa gente, comme moi meme, que estão em vias de ter um surimpampo com tamanha obra prima. A bem ou a mal 'O Pintassilgo' ganhou um Pulitzer e isso ninguém lhe tira.

Donna Tarter, com a personagem Teo Decker, decompõe num raciocínio inquietantemente emocional o motivo  para prosseguir uma vida moralmente estéril. O Teo é o resultado das escolhas e respostas mais difíceis. Porque somos o que somos? Porque escolhemos fazer o que fazemos? Que bem há no que somos? Que bem há no que fazemos? Que piada infinita (inserir: David Foster) é esta?

I look at the blanked-out faces of the other passengers--hoisting their briefcases, their backpacks, shuffling to disembark--and I think of what Hobie said: beauty alters the grain of reality. And I keep thinking too of the more conventional wisdom: namely, that the pursuit of pure beauty is a trap, a fast track to bitterness and sorrow, that beauty has to be wedded to something more meaningful.

Only what is that thing? Why am I made the way I am? Why do I care about all the wrong things, and nothing at all for the right ones? Or, to tip it another way: how can I see so clearly that everything I love or care about is illusion, and yet--for me, anyway--all that's worth living for lies in that charm?

A great sorrow, and one that I am only beginning to understand: we don't get to choose our own hearts. We can't make ourselves want what's good for us or what's good for other people. We don't get to choose the people we are.

Because--isn't it drilled into us constantly, from childhood on, an unquestioned platitude in the culture--? From William Blake to Lady Gaga, from Rousseau to Rumi to Tosca to Mister Rogers, it's a curiously uniform message, accepted from high to low: when in doubt, what to do? How do we know what's right for us? Every shrink, every career counselor, every Disney princess knows the answer: "Be yourself." "Follow your heart."

Only here's what I really, really want someone to explain to me. What if one happens to be possessed of a heart that can't be trusted--? What if the heart, for its own unfathomable reasons, leads one willfully and in a cloud of unspeakable radiance away from health, domesticity, civic responsibility and strong social connections and all the blandly-held common virtues and instead straight toward a beautiful flare of ruin, self-immolation, disaster?...If your deepest self is singing and coaxing you straight toward the bonfire, is it better to turn away? Stop your ears with wax? Ignore all the perverse glory your heart is screaming at you? Set yourself on the course that will lead you dutifully towards the norm, reasonable hours and regular medical check-ups, stable relationships and steady career advancement the New York Times and brunch on Sunday, all with the promise of being somehow a better person? Or...is it better to throw yourself head first and laughing into the holy rage calling your name? 

Amar pelos dois

Este festival da Eurovisão é o primeiro da minha vida. E começa bem, feliz ou infelizmente, não tive oportunidade de assistir a esta semi-final live. Dado o sucesso do conhecimento público procurei, clandestinamente, pôr me a par do que se passou, afinal, em Kiev. 

Não consegui ver tudo. Vi o primeiro número. Sim senhor, um sueco que é uma brasa, a dançar à la Backstreet Boys, com quatros rapazes menos giros (feios, até) mas que juntos nos proporcionam o efeito cheerleader no masculino. Achei bem, faz falta.

Saltei para a apresentação portuguesa, Amar pelos dois, e foi óbvio para mim que tinha que escrever sobre o assunto. Eu já conhecia o Salvador, salvo seja. Em 2009 (onde vais?!) assisti ao ídolos e declarei-me fã. Verdade. Não fã ao ponto de ligar para votar no rapaz (na altura ainda não tinha esse tipo de largueza orçamental. Não que agora tenha! Ou que não ache o dinheiro mais inutilmente gasto! Adiante!), mas fã. Havia qualquer coisa nele, a personalidade, a forma magnífica como transmitia os sentimentos em palco. Eu já falei sobre isto, para mim a arte, em qualquer dialecto, fala mais alto. Fala mesmo, é na arte que nos revelamos, que nos cai a máscara, que nos conhecemos. No palco, com 19 anos o Salvador era autêntico. Passados estes anos, volta e meia ainda vou (ía, tenho ido) ao YouTube rever as actuações do rapaz. Mas nunca mais soube nada dele. Como ninguém soube, suponho. A vida pública tem destas coisas, és Deus, não és ninguém. E eis que regressa, cheio de mexericos enigma e mistério. Sexo, drogas e rock'n 'roll. Um percurso, suponho. Parece mais autêntico. Para muitos, se não todos, a vida não é uma linha recta, pára, recomeça, esquerda, direita. Sonha, vive, respira. Sente. E não sei, nem me interessa, o que fez o rapaz nestes anos, mas agora canta um poema em que a sua voz, o seu corpo, a sua solidão no palco me diz, me convence, me faz sentir que é capaz de amar pelos dois, no nó no estômago e aperto no peito que já senti, sentimos todos, ele canta, declama!, "pára tudo, não me largues, eu amo pelos dois, eu luto pelos dois"! Ele implora o amor, eu já me vi rastejar. E não vivo o momento outra vez, mas partilho do momento do Salvador, sou solidária com ele, deixo-me levar com ele ao que parece ser o fim de um caminho.





Este fim de semana, este caneco é nosso (e, esperamos, o do SLB também - dá-me igual -  mas isso são outros quinhentos!).

P.S.: Ontem o Sebastião não adormecia. Viemos os dois para a sala, deitámos-nos no sofá, com a luz apagada, esta música a tocar uma e outra vez, a iluminar-nos e a preencher o silêncio. O meu bebé contra mim, aninhado neste calor único, nosso. Cresce, mas devagar.

Fidelidade Comprometida

Vou escrever alguns posts. Alinhavados, rascunhos por estruturar que prometi à minha ânsia não defraudar. Finalmente. Desta vez, pelo menos desta vez, não trago a vã promessa de um retorno definitivo. Não trago fidelidade. E não tenho desculpa.  Falta-me o tempo, falta-me a vontade, tenho sono e caio, tropeço de cansaço. A justificação, no entanto, plena per se é que que isto de escrever, de alimentar um blogue ou um caderno de notas, é sempre o resultado de um estado de espírito, requer-se aqui um momento. E se hoje aqui me tens, amanhã não sei onde vou querer estar. Não me deixo comprometer com mais nada. (Aplicável ao blogue e nada mais.)

Cruzámo-nos

O meu ritmo normal de leitura é de um livro por semana, não é muito nem é pouco, é o meu ritmo. No entanto, não me tem sido possível manter este ritmo. Nos últimos tempos, entre trabalho, aulas e crianças, tem sobrado pouco tempo para a leitura, e, por isso, estou há um mês Dentro do Segredo do José Luís Peixoto. Tenho demorado este tempo também porque este não é um livro qualquer. Este é o primeiro livro que leio do José Luís Peixoto, o meu tipo de autor. O livro é uma viagem, retrata a viagem do autor à Coreia do Norte, e só isso já é merecedor de destaque, gosto de História, gosto de História contemporânea e adoro a História que se faz hoje, a História que se escreve enquanto eu vivo, noutro lugar, embrulhada em contextos que não imagino. Mas a viagem que tenho feito não é só à Coreia do Norte, é à vivência desta viagem pelo José Luís Peixoto, que habilmente descreve, num malabarismo de palavras, cada espanto, cada revolta, cada choque de culturas, de estados e crenças. E estou inebriada com a escrita, é o primeiro livro que leio, mas não é o último, porque esta escrita pede mais, como água que se bebe que não mata a sede, que me torna mais sedenta. A leitura tem sido demorada porque não procuro nenhum desfecho, não quero saber quem matou quem ou quem casou com quem, quero passar pelos lugares com o José Luís Peixoto, e passá-los com calma, sem pressa de chegar.

Porque esta leitura tem sido tão lenta, ontem, quando saí do escritório, trazia este livro na minha mala. Ontem, como  hoje já começa e se avizinha, acordei às seis e meia da manhã, às nove sentei-me no meu lugar, às seis saí do emprego para às seis e meia me sentar novamente, desta feita, nas aulas. Neste compasso de meia hora de troca de papéis, subia a rua para ir para o metro e passei por três pessoas. No meio uma senhora de idade avançada, muito próximos dela dois adultos de meia idade, um homem e uma mulher. O homem, não muito alto, dificilmente considerado baixo , ainda assim, vestia roupas escuras, tinha cabelo cinzento, não disfarçado, e tinha piercings na orelha. Dei alguns passos, na direcção da minha vida, para o tic tac do relógio. Parou o relógio. Voltei para trás, era ele, o autor da viagem que estou a fazer, há um mês.

Chamei-o, ele parou. Veio ter comigo, habituado, eu não. Cumprimentou-me, estendi-lhe o livro, quando encontrei (ao livro soterrado na mala), e ele assinou-o. E conversámos, humanamente, conversámos. Esta mania que tenho que autores são semi-deuses que o que fazem, tocar-nos pelos textos, são milagres.



P.S.: A fotografia da capa do livro foi tirada no meio de nenhures, pelo José Luís Peixoto, clandestinamente num movimento como quem acena.

Todos os Santos



Ontem foi dia de todos os santos e eu não preciso de um dia no ano para me lembrar que isto aconteceu. Eu vivo a imaginar o dia em que Lisboa vai voltar a tremer. Não ajuda nada eu estar em vias de me mudar para um prédio com cem anos. Estimadinho, sim senhor! Mas centenário!

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa

Alta Patente

Saí da entrevista da segunda fase de um processo de recrutamento para uma empresa/ função que é mesmo, mesmo, mesmo aquilo que eu procuro nesta fase da minha vida, com a profunda sensação de que nunca uma entrevista (e já fiz bastantes) me correu tão mal. Foram tantos tiros ao lado, Jesus! Só ao recordar tenho esta sensação de vergonha-própria que me corróiiiiii! Ao terminar a entrevista, entrevistada e e entrevistadores de alta patente despedem-se. "Até breve, espero", diz a alta patente. "Até à próxima." E despede-se dizendo, "Eu já percebi que a Filipa é uma lutadora, tem grandes coisas à sua frente", entendi eu algo como, "A Filipa vai ser óptima, mas ainda não é!" ou ainda, pior, "Não se sinta mal por ter atirado ao pé vezes sem conta, vai ter mais oportunidades na sua vida.". "Ciau", pensei eu, optando por não mostrar que domino o italiano.

Passa ao próximo e não ao mesmo.